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Carolina Maria Xaubet Olivera é Doutora em Ciências e Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Atualmente, membro da equipe de farmacêuticos do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos – Cebrim, do Conselho Federal de Farmácia..
Nesse artigo, a Dra Carolina Xaubet compartilha com o Diário Farma considerações sobre dispositivos inalatórios para deficientes intelectuais:
Os dispositivos inalatórios exigem o conhecimento da técnica de uso, muitas vezes complexas, para que a substância ativa atinja o local alvo para exercer o seu mecanismo de ação. Por isso, se faz necessária a orientação da forma adequada de uso por parte dos farmacêuticos, médicos ou outros profissionais da saúde envolvidos no cuidado às pessoas com doenças respiratórias crônicas.
O ensino da técnica de uso dos dispositivos inalatórios para pessoas com deficiência intelectual requer estratégias específicas, como o uso de analogias para explicar a diferença entre os processos respiratórios inspiração (como chupar por um canudo) e expiração (soprar velas). Os dispositivos de treinamento de pacientes que utilizam apitos também são úteis para ensinar os participantes a usar força inspiratória suficiente. Pesquisadores descobriram que os sinais sensoriais foram úteis no treinamento de crianças para usar inaladores. É provável que sejam necessárias técnicas comportamentais e reforço repetido.
Os cuidadores possuem um papel importante nesses casos. Pessoas com deficiência intelectual geralmente precisam de ajuda para tomar medicamentos devido às suas deficiências cognitivas, físicas e muitas vezes sensoriais. Os cuidadores, por sua vez, estão envolvidos no manejo da asma, administrando ou apoiando seus pacientes na administração de medicamentos.
Os objetivos da educação e treinamento para pessoas com deficiência intelectual podem incluir:
a) ensinar a técnica de inalação à pessoa e apoiar os pacientes/cuidadores;
b) incluir avaliação de competência no treinamento do cuidador;
c) adaptar informações para pessoas com deficiência intelectual, sempre que possível; no entanto, atualmente, faltam instruções sobre a técnica inalatória em linguagem fácil;
d) fornecer informações aos cuidadores e apoio à decisão (levando em consideração sua alfabetização em saúde), bem como às pessoas com deficiência intelectual;
e) abordar os déficits de conhecimento da pessoa com deficiência intelectual e do cuidador com relação aos efeitos colaterais dos medicamentos;
f) apoiar a pessoa com deficiência intelectual com a adesão a medidas preventivas e com monitoramento de sintomas, incluindo planos de ação sob medida para a asma.
Os profissionais da saúde também precisam desenvolver habilidades como:
a) ser proficientes na técnica de inalação, assim como no processo de ensino de usuários de dispositivos inalatórios;
b) comunicação para o sucesso da metodologia de ensino.
As estratégias de comunicação com pessoas com baixo nível de alfabetização em saúde que podem ser úteis são: comportamento agradável, simpatia, humor, atenção, permitir que a pessoa expresse as suas expectativas, crenças e preocupações, encorajar, elogiar, fornecer informação apropriada, personalizada, permitir o feedback e revisão dos pontos principais.
Resumindo, aconselha-se que as orientações sobre a técnica inalatória sejam individualizadas e regularmente reforçadas para os pacientes com deficiência intelectual. Se possível, envolver um cuidador que ajude na supervisão da técnica empregada e também as pessoas com deficiência na escolha do inalador, elas tendem a ter uma melhor técnica com os dispositivos que consideram mais fáceis de usar. A escolha de dispositivos inalatórios que requerem técnica de uso com menor número de etapas pode ser um excelente ponto de partida.
Referências
Davis S. Asthma in intellectual disability: are we managing our patients appropriately? Breathe. 2016; 12(4): 311-17. [acesso em 2020 dez 09]. disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5297950/
Global Initiative for Asthma – GINA. [acesso em 2020 dez 09]. Disponível em: https://ginasthma.org/wp-content/uploads/2020/04/GINA-2020-full-report_-final-_wms.pdf