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O vírus sabiá foi identificado, pela primeira vez, no estado de São Paulo, no início da década de 1990, após a morte de uma mulher de 25 anos que havia manifestado alguns sintomas semelhantes aos da febre amarela (febre alta e hemorragias, especialmente), depois de uma viagem para a cidade de Cotia, no interior paulista, onde provavelmente se deu o contágio.
Além desse primeiro episódio, a literatura médica registra apenas outros três de infecção pelo vírus sabiá, seguidos por um longo período sem registros (20 anos), até em 2019, quando dois novos casos de infecção pelo vírus sabiá (SABV) foram identificados na zona rural de São Paulo.
O Vírus Sabiá é uma espécie de vírus da família Arenaviridae. Estes vírus possuem material genético de RNA (fita simples de sentindo negativo) e partículas virais envelopadas.
A família Arenaviridae é classificada em 3 gêneros:
- Mammarenavirus (infecta mamíferos)
- Reptarenavirus (infecta répteis)
- Hartmanivirus (infecta répteis).
O gênero Mammarenavirus é subdividido em dois grupos, o do Velho Mundo e do Novo Mundo, que contém 35 espécies diferentes. Na América do sul já foram identificadas 5 espécies causando febre hemorrágica viral em humanos:
- Vírus Junin (na Argentina);
- Vírus Machupo e Chapare (na Bolívia);
- Vírus Guanarito (na Venezuela);
- Vírus Sabiá (no Brasil).
O agente causador da febre hemorrágica brasileira foi batizado de Sabiá por ter sido localizado inicialmente no bairro do mesmo nome, no município de Cotia, na Grande São Paulo. Doença esta que inicialmente foi confundida com Febre Amarela, porém com letalidade maior.
Os arenavírus são vírus que se instalam em mamíferos, como roedores, no qual causa uma infecção crônica que pode ser completamente assintomático e capaz de persistir durante toda a vida do animal reservatório.
TRANSMISSÃO
As pessoas contraem a doença principalmente por meio da inalação de aerossóis, formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados.
A transmissão comunitária dos arenavírus (de pessoa a pessoa) pode ocorrer quando há contato muito próximo e prolongado, por meio de contato com sangue, urina, fezes, saliva, vômito, sêmen e outras secreções ou excreções.
Procedimentos de geração de aerossóis, como intubação orotraqueal, ventilação mecânica não invasiva e aspiração das vias aéreas superiores, procedimentos dentários também estão envolvidos na transmissão de humano para humano. Além da Existe possibilidade de transmissão ao homem por meio de mordedura do animal infectado.
SINAIS E SINTOMAS:
Os arenavírus causam uma síndrome febril hemorrágica, cujo período de incubação longo (podendo variar de uma semana a mais de um mês). A doença inicia com uma febre, mal-estar, dores musculares, dor epigástrica, cefaleia na região dos olhos, dor, tonturas, sensibilidade à luz. Com a evolução da doença pode haver comprometimento neurológico. A doença normalmente cursa entre 6 a 14 dias, podendo variar de 5 – 21 dias.
A doença evolui com manifestações neurológicas e grave comprometimento hepático resultando em hepatite, com prostração, dor abdominal, hiperemia conjuntival, rubor em face e tronco, hipotensão ortostática, hemorragia petequial, conjuntival e outras mucosas, hematúria, linfadenopatia generalizada e encefalite.
Devido à síndrome de extravasamento capilar, o paciente pode apresentar pulso fino e choque, acometimento pulmonar e edemas, principalmente em face e região cervical, elevação do hematócrito, leucopenia com linfocitopenia e trombocitopenia. O acometimento neurológico leva a tremores e espasmos com alterações no Sistema Nervoso Central.
DIAGNÓSTICO
Como não existem exames específicos disponíveis nos laboratórios de rotina, o diagnóstico é feito através da detecção e sequenciamento do material genético do vírus (RNA) por técnicas moleculares, geralmente realizados somente em laboratórios de referência de saúde pública ou de pesquisa.
TRATAMENTO
O tratamento é de suporte conforme a sintomatologia do paciente. Tem-se utilizado a Ribavirina, antiviral que é indicado para Febre do Lassa, febre hemorrágica causada por vírus similar, sendo mais eficaz quando aplicada precocemente. Acredita-se que outros arenavírus também são sensíveis a esse antiviral.
Não há tratamento específico para a febre hemorrágica brasileira, até o momento, e a letalidade chegou a 60% dos casos que obtiveram diagnóstico positivo para a patologia.
Fonte:
-Portal PEBMED – Vírus Sabiá: pesquisadores brasileiros investigam vírus de alta letalidade ressurgido no país após 20 anos. Disponível em: https://pebmed.com.br/virus-sabia-pesquisadores-brasileiros-investigam-virus-de-alta-letalidade-ressurgido-no-pais-apos-20-anos/
– Ministério da Saúde do Brasil – Arenavírus: Sobre as Febres Hemorrágicas Viriais. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/arenavirus.
– Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ – Febre Hemorrágica reaparece no Brasil. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/febre-hemorragica-reaparece-no-brasil
– Site Dr. Drauzio Varella – Febre Hemorrágica Brasileira. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/febre-hemorragica-brasileira/
– Sociedade Brasileiro de Medicina Tropical – SBMT – Um problema invisível: arenavírus ressurge no Brasil depois de 20 anos. Disponível em: https://www.sbmt.org.br/portal/um-problema-invisivel-arenavirus-ressurge-no-brasil-depois-de-20-anos/
– NRT Quick Reference Guide: Brazilian Hemorrhagic Fever (BzHF). Disponível em: https://web.archive.org/web/20120226155427/http://www.nrt.org/production/NRT/NRTWeb.nsf/AllAttachmentsByTitle/A-1009WMDQRGBHF/$File/07BrazilianHemorrhagicFever(BzHF)QRG.pdf?OpenElement